Resultados do Inquérito: A Época de Avaliação na Academia do Porto e os seus impactos na Saúde Mental

A Federação Académica do Porto (FAP) aplicou um inquérito aos estudantes da Academia do Porto entre os dias 3 e 7 de janeiro, com o objetivo de conhecer os desafios sentidos pelos estudantes no início da época de avaliação.

Os dados recolhidos revelam que 79% dos 1218 estudantes inquiridos sentiram um declínio significativo do seu bem-estar psicológico ao longo do primeiro semestre letivo. E, quando questionados sobre se a aproximação à época de exames provoca um declínio significativo do bem-estar psicológico, 9 em cada 10 responderam afirmativamente.

O inquérito, que incidiu sobre a metodologia de avaliação das unidades curriculares e o impacto psicológico que a época de exames tem na saúde mental dos estudantes, visa promover estratégias de apoio e melhoria do bem-estar da comunidade académica.

Da análise das respostas, destaca-se que 20% dos estudantes inscritos em exames na época de avaliação em curso, tiveram a sua primeira avaliação agendada para os dois primeiros dias úteis do ano (2 e 3 de janeiro). E, entre estes, 56% realizaram o seu segundo exame até à passada sexta-feira, 5 de janeiro. Importa ainda salientar que metade dos inquiridos que afirmaram estar nesta circunstância são estudantes deslocados.

“Este inquérito reflete uma situação alarmante, que justifica a atenção das instituições de ensino superior e do governo. A saúde mental não pode ser discurso e depois ser normal os estudantes começarem os exames a 2 de janeiro ou terem 3 exames na mesma semana. Há falta de coerência entre o que se diz e o que se faz.” afirma o Presidente da FAP, Francisco Porto Fernandes.

Segundo o inquérito, 48% dos estudantes estão inscritos em, pelo menos, 5 exames nesta época de avaliação, referente ao 1.º semestre do ano letivo 2023/2024. Quando questionados sobre se existem unidades curriculares nas quais o exame poderia ser substituído por outros métodos de avaliação, aplicados ao longo do semestre letivo, 77% responderam afirmativamente.

A FAP mostra-se ainda desagradada com a falta de inovação pedagógica no processo de avaliação.

Segundo Francisco Porto Fernandes, “O mundo mudou a uma velocidade nunca antes vista, se o Ensino Superior não se adaptar falhará a sua missão. Os professores do Ensino Superior são os únicos sem formação pedagógica. O método de avaliação é muitas vezes igual ao do tempo dos nossos avós.” 2 em cada 3 estudantes inquiridos considera que o método de avaliação não é adequado.

Relativamente às expectativas para o aproveitamento académico, o inquérito aplicado revela que a percentagem de estudantes que conta concluir todas as unidades curriculares é 25% superior entre os estudantes que tiveram a oportunidade de serem avaliados através de outros métodos de avaliação.

Sobre os fatores associados ao declínio do bem-estar psicológico, a pressão no desempenho académico é a principal causa, apontada por 95% dos estudantes. Não obstante, 45% dos inquiridos consideram que a carga horária letiva é excessiva e colocam esse fator entre os responsáveis pelo declínio do seu bem-estar psicológico.

Francisco Porto Fernandes lança um repto aos responsáveis políticos: “Continuamos com uma carga horária excessiva e aulas expositivas e unilaterais. Em Portugal o tempo na sala de aula é cerca do dobro de países como o Reino Unido ou a França. É tempo de considerar a proposta da Semana de 4 dias da FAP e diminuir a carga horária.”

Ainda sobre o declínio do bem-estar psicológico, este inquérito revela que, na perceção de 75% dos estudantes, esse declínio tem interferido nas atividades académicas. Porém, entre este conjunto de estudantes, apenas 3 em cada 10 conseguiram aceder a acompanhamento psicológico, sendo que 71% consideram que o recurso a esse tipo de apoio é dispendioso. Já entre o universo de estudantes que acederam a apoio psicológico, apenas 1 em cada 4 foram acompanhados em serviços da instituição de ensino frequentada.

Quando questionados sobre se já ponderaram interromper ou abandonar definitivamente o Ensino Superior, 4 em cada 10 estudantes responderam afirmativamente, sendo que 30% responderam ter ponderado interromper e 10% declararam já ter ponderado abandonar definitivamente. Entre os estudantes que responderam afirmativamente, 35% admitem ter sentido dificuldade em suportar as despesas relacionadas com a frequência do Ensino Superior, ao longo do 1.º semestre do ano letivo em curso. Esta percentagem é 10% superior à encontrada no universo total de inquiridos.

Francisco Porto Fernandes, alerta ainda “Os problemas de saúde mental são o reflexo de uma geração que é a primeira a viver pior do que a dos seus pais. Não podemos esperar que os jovens com baixos salários, precários e sem conseguirem sair de casa dos pais, tenham uma boa saúde mental. A juventude tem de ser um desígnio do próximo governo, um desígnio nacional.

 

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Ficha Técnica:

O inquérito aplicado teve como objetivo aferir o impacto da época de avaliação no estado de saúde mental percecionado pelos estudantes e quais os fatores de perturbação que os estudantes associam a um declínio do bem-estar psicológico. A amostra foi constituída por um total de 1.222 estudantes inscritos em Instituições de Ensino Superior da Academia do Porto, distribuídos da seguinte forma: 54% do ensino universitário público, 30% do ensino politécnico público e 16% do ensino particular e cooperativo. Entre o total de inquiridos, 31% são beneficiários de bolsa de estudo e 34% são estudantes deslocados, que residem fora do seu agregado familiar de origem durante o período letivo. A recolha de informação decorreu entre os dias 3 e 7 de janeiro e foi efetuada através da aplicação de um formulário digital, tendo sido utilizado um questionário estruturado, constituído maioritariamente por perguntas fechadas. No inquérito aplicado foram obtidas 1.222 respostas, tendo sido validadas 1.218 e anuladas 4. Por se tratar de uma amostra aleatória, não é possível calcular a margem de erro estatístico. Os dados apresentados são resultado de uma projeção, da responsabilidade da FAP, com base na análise das respostas validadas.